domingo, 3 de janeiro de 2010
requiem para um sonho (requiem for a dream)
Lançado em 2000.
Se você gosta de filmes mais "cult", bem fortes e gosta de chorar assistindo-os, esse é para você... Bom, eu pelo menos chorei que nem um bebê que acaba de nascer.
É um registro da vida de quatro personagens que entram no mundo das drogas de maneiras diferentes, mas pelo mesmo motivo: Acreditam que assim, poderiam estar mais perto de realizar seus sonhos. Harry Goldfarb (Jared Leto) tem o sonho de ser rico e viver feliz para sempre com Marion Silver (Jennifer Connelly), sua namorada, que sonha em ter uma grife de roupas. Os dois, juntos com seu amigo Tyrone (Marlon Wayans) começam a tentar ganhar a vida com o narcotráfico, mas os três amigos começam a “experimentar” as drogas, e se tornam tão viciados, que esquecem que isso se tratava de dinheiro. Já Sara Goldfarb (Ellen Burstyn), mãe de Harry, é uma típica dona de casa viúva viciada em televisão que um dia recebe um convite para participar de seu programa de televisão preferido e começa a tomar pílulas de emagrecimento para poder aparecer no programa com o seu vestido preferido, que já não lhe cabe mais. Sara acaba abusando cada vez mais dessas pílulas. Mas Réquiem para um sonho definitivamente não é só mais um filme sobre drogados. Tem censura 18 anos com razão. Tudo nele é pesado... É como uma feijoada no café da manhã! Contém muitas cenas fortes e completamente perturbadoras psicologicamente, abordando o tema de uma forma fria e direta, que só vai esfriando cada vez mais. O filme é dividido em estações do ano. Começa com o verão: Sol ardendo, pássaros cantando. Tudo parece bem para todos com seus pequenos vícios necessitando apenas de pequenos sacrifícios. Depois vem o outono: A história começa a ficar mais fria, as folhas começam a cair, os vários problemas não param de surgir, o sonho começa a virar pesadelo. Abstinência. Perseguição. E finalmente o inverno: Mais do que frio. Neve. Agora já são enormes seus vícios, e para supri-los, são necessários grandes sacrifícios. O Desespera leva-os a fazer sacrifícios. A vida deles está cada vez mais perto do inferno, e mesmo assim a história segue fria, calculista, direta, nua e crua até que chega ao final no choque mais profundo de realidade, no acordar do sonho direto para o pesadelo sem fim. Chega ao Réquiem do sonho. E tudo isso acontece tão “sem querer”, tão naturalmente. É como se fossem apenas sendo empurrados pela correnteza...Naturalmente. O que eles não sabiam é que essa correnteza poderia gerar uma enchente. A enchente que leva a um final bastante inesperado.
As atuações são todas maravilhosas, daquelas que fazem você sentir a dor que a personagem sente. Não só a dor física, mas também a solidão, a dor psicológica, a loucura, a paranóia, o desespero. É um filme realmente comovente e que mexeu MUITO comigo. Algumas cenas desse filme me deram vontade de gritar, outras me deram vontade de chorar, e em outras, de vomitar. Em muitas delas tive vontade de fazer tudo isso ao mesmo tempo. E eu juro que mordi meu travesseiro.
Em especial a atriz Ellen Burstyn, que foi indicada ao Oscar de melhor atriz, me impressionou muito, de um jeito que eu não me conformo com o fato dela ter perdido o Oscar para a Julia Roberts. Ela entrou completamente na personagem, interpretou a loucura de um jeito único, completamente surpreendente. Se vocês quiserem saber o que é uma interpretação de verdade, o assistam.
Além do roteiro totalmente envolvente, a qualidade técnica do filme me chamou muita atenção. Réquiem para um sonho é um filme que não tem absolutamente nada de comum. Os cortes são muitos e são muito rápidos. Os efeitos de divisão de tela, e mais vários efeitos “diferentes” que eu não me lembro de ter visto em outros filmes são outros fatores que me impressionarem. A trilha sonora é outra que eu achei excelente e muito envolvente. As músicas de fundo parecem representar o que as personagens estão sentindo no momento.
É completamente real, e talvez por isso que seja forte. Sem finais felizes, sem segundas chances, sem perdas de tempo com lições de moral. Ele retrata a realidade como ela é. E a realidade é que situações como essas não se tratam só das drogas. Os lares já estavam quebrados. Todos eles já tinham uma certa falta de estrutura emocional.
É isso que o filme retrata, quatro viciados que reagem de maneiras diferentes aos seus vícios na sua realidade mais dura: Uma senhora solitária que vive de assistir programas sem fundamento na televisão, e torna disso sua vida e suas metas, acima de tudo, que é levada á loucura por drogas lícitas. Um jovem apaixonado e com um único objetivo de ter um próprio negócio e ficar rico que entra no mundo das drogas apenas para conseguir dinheiro e acaba se viciando. Uma jovem que entra no esquema apenas para ajudar o namorado, mas acaba se tornando dependente física e química das drogas a ponto de fazer qualquer coisa para consegui-las, e isso se torna sua alegria. Um jovem negro que sofre racismo a ponto de ser o único dos traficantes a ser perseguido pela polícia, que só tinha o sonho de ser “alguém”.
O que eles tem em comum? O sonho.
E todos eles insistem em negar que são viciados.
Réquiem é uma palavra do latim que significa repouso, no sentido de morte.
Por Macbeth